quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sentimento de Vergonha!!


rev. Digão

Vergonha é um sentimento horrível. É aquela sensação de desconforto, de estar fora de ambiente, de estar completamente deslocado, em um lugar que não é seu. Aquela vontade de se estar em qualquer lugar, menos naquele que gerou a vergonha.
Já tive algumas vergonhas na vida. Vergonha das espinhas, vergonha das notas ruins na escola, vergonha de não ter grana. Mas todas são vergonhas passageiras.
Ultimamente tenho tido muita vergonha. Vergonha de me identificar como evangélico. Vergonha de me identificar como pastor. Entendo que “evangélico” é um lindo termo que transcende definições eclesiológicas. “Evangélico” é tudo aquilo que é nasce do Evangelho. “Evangélico” é o temor a Deus, a vontade de fazer diferença positiva na vida das pessoas, é ser sal e luz em um mundo podre e escuro. Entendo também que “pastor” é um dom espiritual, como nos mostra Ef 4, mas também com a capacidade da pessoa sendo burilada e trabalhada nos bancos de seminário e livros de teologia.
Tenho vergonha de me identificar como evangélico porque, no Brasil, evangélico é sinônimo de alienação, de roubalheira, de falta de vergonha na cara. O evangélico brasileiro conhece muito seus ídolos, que saem nas “contigos” gospel, sabe bem de suas carreiras, que insistem em chamar de ministérios, mas que são verdadeiras máquinas de gerar dinheiro. O evangélico brasileiro médio (com as honrosas exceções de praxe) desonra o Deus do Evangelho da Bíblia, pois é, via de regra, um imbecil acéfalo que não sabe discernir o bem do mal, mesmo passando tanto tempo nos templos hedonistas que um dia foram igrejas. Esse ser imbecilizado alimenta e é alimentado por uma máquina chamada “mídia evangélica”, que é até mais podre que a mídia secular, já que os escândalos da Madonna são escancarados à luz do dia, mas os escândalos das estrelinhas gospel são devidamente abafados para o bem comum do deus Baal e seu representante mamom, a quem servem com alegria de coração.
No Brasil, pastor de "sucesso" é pastor midiático, que tem seu programa na TV, na rádio e onde mais puder aparecer para arrancar dinheiro da manada. Desses, a exceção é Hernandes Dias Lopes, homem que zela pela integridade em suas pregações. Quanto ao restante, ao menos aqueles conhecidos em nível nacional, as antigas pegadinhas do Ivo Hollanda eram mais íntegras e honestas! Esses não são pastores, pois não cuidam de pessoas, e sim de empresas; sua fonte de contentamento não é o resultado da cruz na vida de pessoas, e sim o resultado dos balanços patrimonial e líquido crescentes; o Deus dos Exércitos, Pai de nosso Senhor Jesus, lhes é desconhecido, ao contrário de Baal, que lhes é íntimo.
Sim, sou pastor evangélico. Mas não quero mais ter vergonha. Não sou midiático, não engano as pessoas prometendo o céu a módicas prestações de mil reais nem encubro delas as dificuldades de se manter um compromisso de vida cristã. Quando viajo de avião, compro só a passagem, não o avião inteiro. Creio no Evangelho, no poder da cruz, na limitação do diabo, na salvação acompanhada de mudança de vida, de conduta e de padrão de pensamento. Creio que a igreja está terrivelmente enferma. Mas não irremediavelmente. Aqueles que são dEle, a verdadeira Igreja, o Corpo que permeia a instituição, resplandecerá, enquanto que o refugo que hoje brilha o fulgor de satanás será desmascarado em breve. Creio nisso. E é o que me mantém são. Mesmo em meio à vergonha.

Fonte: Genizah