sábado, 10 de abril de 2010

Glória Perez e Glória a Deus!!





A escritora e novelista Glória Perez — que teve a sua filha barbaramente assassinada no início dos anos 1990 — escreveu o seguinte em seu blog (http://gloriafperez.blogspot.com/): “E por falar em Miriam Brandão... Um dos seus assassinos, o Wellington, teve a pena extinta e virou pastor: já é dono de 3 igrejas!!!! Sequestrou, incendiou viva uma criança de 5 anos, e hoje ganha a vida contando seu feito! Aliás, Guilherme de Pádua também! Com todo o respeito aos fiéis iludidos, parece que se tornou final de carreira para psicopatas assassinos virar pastor!”

Como evangélicos e espirituais, devemos ter discernimento e julgar bem, segundo a reta justiça, todas as coisas (1 Co 2.15; Jo 7.24). Eu posso não concordar com o posicionamento de uma pessoa não-evangélica em muitas coisas, mas tenho de reconhecer quando ela tem razão. Afinal, até o Senhor Jesus, ao ouvir uma pecadora, respondeu-lhe: “Disseste bem” (Jo 4.17).

Glória Perez tem razão em seu desabafo. Ela teve a sua filha assassinada, e com requintes de crueldade. E tem todo o direito de ainda estar angustiada e indignada com a benevolência da lei brasileira para com pessoas que cometem crimes tão bárbaros contra a vida humana.

Eu não tenho dúvida de que o Senhor Jesus perdoa e transforma os mais vis pecadores. Ele é misericordioso e piedoso. E ao infrator crucificado, ao seu lado, Ele disse: “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). Entretanto, isso não significa que os criminosos não devam pagar pelos seus crimes na terra.

Penso que alguém que queima uma criança ou que assassina brutalmente uma jovem, como fizeram os criminosos mencionados por Perez, mereça, no mínimo, prisão perpétua. Não estamos falando de um homicídio culposo, de um acidente ou de um assassinato em legítima defesa. Estamos falando de homicídio duplamente qualificado! Estamos falando de crimes em que houve intenção de matar! Os pais nunca mais verão os seus filhos. É justo que os criminosos sejam soltos depois de poucos anos e tenham uma vida normal e até zombem da família enlutada?

A lei brasileira, como eu já disse, ainda é suave em relação a crimes hediondos, a despeito de ter melhorado um pouco — o que ficou comprovado no julgamento dos Nardoni. Mas veja se nos Estados Unidos criminosos como Charles Manson, assassino da atriz Sharon Tate, em 1969, foi solto. Para os estadunidenses seria inconcebível um criminoso desse naipe ser solto e tornar-se um pastor. E os criminosos acima estão para os brasileiros assim como Manson está para os norte-americanos. Ou não?

Glória Perez parece ter alguma antipatia pelos evangélicos, talvez por causa dos mercantilistas que se dizem evangélicos. Mas no episódio em apreço ela não generalizou. Não quis dizer que todos os pastores são criminosos. Prova disso é o que escreveu, na mesma postagem: “quem ofende os pastores sérios são esses criminosos que se utilizam de uma carreira respeitável para acobertar sua psicopatia e lucrar com os crimes cometidos”.

Na verdade, Perez quis mostrar a sua indignação quanto ao fato de as igrejas evangélicas (ou pseudo-evangélicas, em alguns casos) aceitarem como pastores assassinos condenados, principalmente aqueles que cometeram crimes de grande repercussão. Já pensou se os Nardoni resolvessem fundar uma igreja, ao saírem da prisão? E, se Susane von Richthofen se tornasse uma “pastora”?

Sou obrigado a reconhecer que boa parte dos pastores e pregadores ex-assassinos gostam de contar os seus feitos da vida do crime. Lembro-me de que, na minha adolescência, o povo dava glória a Deus ao ouvir um ex-bandido dizer de boca cheia: “Não me perguntem sobre quantos eu matei. Perguntem-me sobre quantas almas já ganhei para Jesus”.

Sinceramente, tenho ojeriza desses testemunhos que exploram a vida pregressa das pessoas. Muitos fazem até cartazes: “Fulano de tal, ex-assassino, ex-ladrão, ex-estuprador, ex-pedófilo, ex-traficante, ex-pederasta”. Meu Deus! Se eu tivesse causado males à sociedade, no passado, jamais desejaria contar isso em pormenores! Faria como o apóstolo Paulo, que preferia dar ênfase à sua nova vida com Cristo, deixando claro que “as coisas velhas já passaram” (2 Co 5.17).

Eu defendo a prisão perpétua para quem comete crimes hediondos. E também reconheço que o Senhor Jesus tem transformado verdadeiramente a muitas pessoas que viviam no mundo do crime, não tendo em conta os tempos da ignorância (At 17.30). Mesmo assim, sempre duvidarei daqueles que se dizem ex-isso-e-ex-aquilo. Nunca deixaria a minha filha sozinha, por exemplo, com alguém que tenha histórico de abuso de crianças só porque ele se diz pastor ou evangélico. Por quê? Porque duvido de sua conversão? Não. Simplesmente porque sou prudente e amo a minha filha.

Criminosos que se sentem verdadeiramente regenerados por Deus e estão soltos — em razão da complacente lei brasileira —, podendo inclusive ter o privilégio de falar nas igrejas e em programas de TV, deveriam também ser prudentes. Em vez de usarem o seu passado como chamariz, em seus testemunhos, deveriam dar a Deus toda glória por Ele ter usado de graça e misericórdia para com eles.

Pela sua graça, Deus nos dá o que não merecemos: a vida eterna e a certeza de que estamos perdoados. E, pela misericórdia, Ele não nos dá o que merecemos: a morte e o inferno (Rm 6.23). Glória a Deus!

Em Cristo, que é amoroso e justo,
Ciro Sanches Zibordi

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